Quarta-feira, 27 de Setembro de 2006
The portuguese alien
Mais umas aulas de Origami - desta feita andámos a fazer elefantes, sapos, corvos, uma bicharada de papel. Para a semana começam os cursos de japonês... já comprei os livros...isto não vai ser fácil....não percebo nada do que está escrito!
Dizem-me que, pelo que escrevo, estou a gostar da experiência nipónica – confesso que sim, é verdade, por enquanto o entusiasmo movido pela novidade ainda não esvaneceu. No entanto, no pouco tempo que aqui estou já deu para perceber que este mundo japonês está longe de ser perfeito. Pois, nem tudo são rosas. Falando com outros estrangeiros, sobretudo europeus e americanos que aqui vivem já há algum tempo apercebemo-nos que o japonês médio é ainda extremamente fechado.
Começa pelo facto de existir um número bastante baixo de naturalizações. Um aspecto que talvez condicione seriamente é eles não aceitarem a dupla nacionalidade. Neste momento, há toda uma discussão em como talvez venham a impor um limite para a população de residentes imigrantes de 3%. Por um lado os japoneses percebem que para manterem o nível de vida e desenvolvimento do país, necessitam de forma urgente e em bom número de imigrantes (asiáticos, na sua maioria). Por outro, devido à relativa homogeneidade sócio-cultural junto a um certo espírito de isolacionismo, eles não querem nem por nada abrir mão do país. É um paradoxo engraçado de seguir. No entanto, acho que se tivermos em consideração que eles estiveram fechados a países estrangeiros até ao fim do século 19 (período Edo), os progressos que já realizaram nesta matéria são notáveis.
Falando destas coisas de imigração esta semana recebi o meu cartão de residente estrangeiro (Alien Card). Serve como uma espécie de bilhete de identidade, sendo o seu porte obrigatório. Agora falta-me fazer a candidatura para a autorização de múltiplas entradas/saídas (isto aqui a burocracia também dói!). E para que serve este papel? Caso não o tenha, mesmo possuindo um visto de trabalho válido por 3 anos, vejo-me impossibilitado de sair do Japão. Isto porque se tiver de me ausentar, nem que seja por dois dias, perco direito ao meu lugar! Ou seja, o meu visto é de entrada única o que a bem dizer de pouco me serve pois como é obvio tenho de andar para trás e para a frente em viagens, congressos, reuniões, etc... Entretanto, numa semana regada a muita chuva, temos um novo primeiro-ministro. Engraçado como tivemos eleições e, se não fosse pelos jornais, nem tinha dado por isso! É que eles não fazem campanha! Pelos menos aqui em Tsukuba não vi nada! Nada de carros com buzinas, distribuição de folhetos, cartazes, comícios,...discrição é uma coisa mas isto aqui mais parece um país politicamente morto! A Anna, uma sueca que já vive cá há 31 anos, diz-me que eles são pouco politizados, não discutem nem querem saber de governos ou leis. Engraçado começo a pensar que os povos asiáticos são assim, pouco ligam aos que os dirigem. Aceitam o que lhes dão, queixam-se pouco! São como os chineses; das dezenas com que tenho convivido só encontrei ainda um que era capaz de emitir opiniões e discutir política! A maior parte dos orientais foge destas coisas como o diabo da cruz! Estão bem para ditaduras, serem escravos de sistemas prepotentes! E isto não depende se a pessoa em questão é empregado de mesa ou doutorado em física teórica. É um estado de alma desta gente, acho.
Domingo, 24 de Setembro de 2006
O modelo Japonês – alive and kicking, still
Estou espantado como as coisas funcionam por aqui. Não posso, nem quero tecer grandes considerações sociais e/ou económicas mas não posso deixar de fazer um comentário sobre o sistema japonês. Deste ainda conheço muito pouco mas não me deixa de espantar que, naquele que é possivelmente o país mais avançado tecnologicamente do mundo, exista tanto contraste com outras nações na maneira de proceder e tratar o ser humano. Em Inglaterra, e geralmente nos países ocidentais, a norma é tentar maximizar a produção automatizando ao máximo quaisquer funções. Ou seja, se houver uma máquina que seja capaz de fazer o mesmo trabalho que um ser humano, nem se pensa duas vezes. Toca de modernizar e lá vão uns milhares para a rua. Aqui, o que me surpreende, é que por demasiadas vezes tenho observado situações onde eu diria que o número de indivíduos que estão incubidos de uma tarefa é notoriamente excessivo (ou muito mais elevado) do que é comum para a mesma função nos países ocidentais (especialmente anglo-saxónicos). Assim, por exemplo, num parque de estacionamento, ao passo que em Inglaterra temos um funcionário na recepção (se tanto) munido de uma miríade de cameras de vigilância com sistema de alarme centralizado e ligado a uma central de segurança, aqui tem uma série de seguranças distribuídos por vários pisos. Ás vezes, na entrada/saída dos parques, há mesmo dois seguranças (os quais estão de plantão todo o dia) e deva-se salientar que a entrada/saída são conjuntas, não é que fiquem uma de cada lado do edifício. E como esta situação há muitas outras que poderia referir. Ora não me parece que seja por falta de tecnologia que eles não reduzem o número de pessoal. Acho que tem de ver realmente com o sistema social e a maneira de fazer as coisas aqui no Japão. E mesmo com todo este manancial de funcionários, o qual qualquer bom gestor ocidental diria que é excessivo e para descartar o quanto antes, o país funciona e impõe-se como um dos mais poderosos economicamente no mundo inteiro. Ora então digam-me lá o que é que é assim tão diferente no Ocidente? Por que é que um sistema assim não poderia resultar noutros países? Porque os despedimentos em massa, aos milhares? Aliás, acho que qualquer companhia que o faca no Japão fica extremamente mal vista aos olhos da população local e poderia, por conseguinte, perder uma larga fatia de mercado interno. E digo-vos que os japoneses são muito fiéis ao que é japonês e mais ainda ao que compram, portanto uma vez perdida a confiança dos consumidores é particularmente difícil reconquistá-la aqui. Na verdade, a maioria do parque automóvel é de fabrico japonês (eu diria 8 em cada 10 automóveis). O mesmo se refere aos electrodomésticos e demais aparelhos electrónicos. Enfim, são coisas que dão que pensar. Talvez alguém um dia me possa explicar o porquê de tudo isto? Como é que o Japão, embora com os seus defeitos (nacionalista, pouca abertura, etc.), consegue reter um sistema de dimensão humana e simultaneamente afirmar-se economicamente, coisa que notoriamente se perde a passos largos no Ocidente?
Sexta-feira, 22 de Setembro de 2006
Sore wa nan desu ka? Kore wa Kimono desu.
Esta semana foi bastante activa no que se refere a “Introdução à cultura japonesa”.
Já aqui referi do meu inesperado envolvimento numa demonstração de cerimónia de chá. Na altura tive também a oportunidade de visitar uma exposição de arranjos florais Ikebana. Pois agora, foi a vez de tentar Kimonos e Origami. Assim, tive o luxo de poder vestir um verdadeiro Kimono japonês, todo ele em seda, e para mais, um modelo de noivo! Isto até me senti como saído dum filme do Kurosawa. Mas impressionantes são realmente os vestidos de casamento para elas e os demais Kimonos femininos, os quais se dividem em várias categorias como sejam de mulher solteira, casada, etc. Enfim foi uma ocasião bem divertida, organizada aqui pelo pessoal da residência. Boa notícia foi que, no meio disto, dei-me que conta que não era o único residente a falar português! Conheci finalmente o casal brasileiro do qual já tinha ouvido uns rumores. Mas – hélas! - eles estão de partida e - pasmem-se – seguem para Inglaterra dentro de duas semanas! Casal simpático, o Amaro e a Nelita. Pelo que me disseram tenho muito para conhecer aqui nas redondezas pois a região de Tsukuba está cheia de brasileiros e que e possível até encontrar restaurantes de rodízio – ah ganda Chimarrão! Depois do Kimono foi tivémos a primeira aula de Origami. Vamos ter umas três sessões e pelo que vi na primeira isto promete! Pega-se num quadrado de papel colorido, fazem-se umas dobras de papel e antes que demos por isso estamos com caixas, cisnes e pinguins nas mãos! Parecia eu que estava de volta à infantil do Manuel Bernardes, a fazer brinquedos de papel. Agora o desafio é tentar fazer aquilo sem instruções! Não é fácil, são muitas dobras, mas o resultado final compensa.
Quarta-feira, 20 de Setembro de 2006
Despem-se as árvores, calam-se as cigarras
Aparentemente anda mais um furacão a fazer das suas aqui na costa oeste do Japão. Felizmente estou do outro lado, do lado do sol nascente. Mas pelos vistos isto toca a todos; nos Açores estão a preparar-se para a chegada do “Gordon”. Engraçado como uma força natural tão destrutiva acaba sendo baptizada com nome de gente. As estrelas e cometas ainda percebo, honra dada como fruto do esforço daqueles que primeiro os estudaram e depois, são fenómenos lindos de se observar. Mas os furacões...valho-nos Deus! Em todo o caso, se alguma vez oferecida, recusaria tal honra!
Hoje foi a recepção de boas-vindas para os três novos elementos do grupo (a minha pessoa incluída). Fizémo-lo depois do seminário semanal, com uma foto de grupo como manda a ocasião e regado a chá verdes, cerveja japonesa (Asahi e Kirin, para os interessados) e algum Cho-Hi (uma espécie de limonada alcoólica de origem coreana). Do lado dos comes, uma saudável mudança das sandes repletas de maionese, norma em Inglaterra. Portanto, mais umas quantas iguarias da cozinha japonesa ao qual fui apresentado: sushi de ovas de ouriço-do-mar (intenso cheiro e sabor a mar talvez fruto do elevado conteúdo de sais de iodo), fios de lula fumada (um bom petisco para acompanhar as cervejas, segundo os nipónicos), queijo coberto de camadas de peixe seco e finalmente, sushi com grãos de soja apodrecidos (dizem que é muito saudável mas cheira mal como tudo!). Claro que tínhamos ainda toda uma provisão de sushi recheados de peixe cru (polvo, atum, etc.), alguns com omoleta, outros opção vegetariana, outros ainda com uma tira de bacon frito e um pequeno espargo a acompanhar.
O Ajjul, o meu colega indiano, contou-me acerca do tempo em que ele trabalhava em Bangalore como estudante de doutoramento no grupo do C N R Rao. Para os que conhecem o nome fiquem sabendo que este senhor, mesmo com a idade avançada que tem (80+), ainda encontra energias para dirigir um instituto de investigação de referência mundial com cerca de 250 investigadores e estudantes ao seu encargo – louvável. Por acaso até é um sítio onde não me importava ir passar uns poucos meses.
De volta a casa, as árvores começaram a esfolheada conjunta. Com isto esquecemo-nos paulatinamente do ensurdecedor barulho das cigarras, antes gordas do tamanho de um polegar, ora mortas de fome ou cansadas de tanto gritar. Os grilos, até há pouco soterrados na pesada e sonora onda “cigarreira”, soltam-se, um caso de tempus fugit. Este concerto de Verão, tocado a várias mãos, ouve-se não só na pequena cidade de Tsukuba mas também na imensa Tóquio. Ando por Tsukuba a tentar encontrar actividades de tempos livres. Temos umas duas ou três piscinas mas aqui, em geral, os hábitos e costumes são diferentes. Para além dos tradicionais desportos japoneses (sumo incluído) fiquei surpreendido por sabe-los fanáticos de basebol. É incrível a quantidade de miúdos que nos recreios, de taco, bola e luvas rodopiam em treinos de lances copiados da televisão. Certamente esta é uma das consequências da permanência dos americanos em território japonês por mais de 50 anos.
Mais do que isto, lá vou tentando como posso levar uma vida normal. Meio por graça no outro dia fui ao barbeiro. Como esperava, foi um delírio...ele não falava inglês, eu não falava japonês. Levou-nos cerca de dez minutos para nos entendermos quanto ao corte de cabelo. Mas, trabalho feito, foi muito simpático e até me ofereceu umas amostras de óleo para o couro cabeludo...enfim, talvez tenha sido porque mencionei os nomes de Figo e Cristiano Ronaldo! Cá em casa, continuo à redescoberta das tarefas mundanas...lavar roupa com uma máquina automatizada e computorizada da Sanyo, na qual todos os botões são em japonês (muito embora uma folha A4 escrita num inglês incompreensível), não chega para perceber o que se passa lá dentro; isto a juntar ao facto que comprei o detergente de olhos fechados (espero bem que seja detergente para a máquina) – em suma, acho que tenho aqui um desafio doméstico.
Domingo, 17 de Setembro de 2006
Tokyo dreams
Ontem apercebi-me que os japoneses têm um sistema próprio para contar os anos. Claro que reconhecem o sistema ocidental (presente ano sendo 2006) mas aqui o que conta realmente são quantos anos tem o imperador de trono. Numa semana onde vimos a nascimento do novo príncipe, terceiro na linha ao trono, fiquei a saber também que estamos portanto no ano 18 da era Heisei. No Japão cada reinado (era) tem um nome próprio o que fará com que o Imperador Akihito seja reconhecido póstuma e oficialmente como Imperador Heisei (http://en.wikipedia.org/wiki/Emperor_Akihito). Um aparte: para aqueles que estão interessados em aprender umas bases de Japonês (como eu, por motivos óbvios) uma boa página é http://lrnj.com/ -divirtam-se. Hoje foi dia de ir a Tóquio, essa cidade gigantesca de cerca de 13 milhões de habitantes. Tóquio é o maior centro económico metropolitano do mundo com um PIB de 1.35x1012 USD, ou seja, cerca de 10 vezes mais que o PIB de Portugal! Da primeira vez que cá vim (Março 2006) fiquei a conhecer bem o bairro de Ueno. Há duas semanas atrás passei-me por Akihabara. Tóquio, tal como Londres ou Paris, tem ser visitada assim, por partes. Ora então, hoje foi a vez de do bairro de Ginza. A primeira paragem foi no Fórum Internacional de Tóquio. Este Centro foi criado para albergar exposições, conferências e demais eventos culturais, um pouco como o Centro Cultural de Belém. Mas a arquitectura é muitíssimo diferente. Uma estrutura toda ela em aço e vidro, de uma vastidão arrasadora e em forma de olho quando vista do ar. Impressiona pela sensação de espaço e luminosidade. Tive sorte pois exactamente na altura que ali cheguei estava a decorrer um Festival de Cinema Brasileiro. Organizado por uma associação de brasucas, como seria de esperar, estes são na sua generalidade filhos de japoneses que emigraram durante o pós-guerra (fim da década de 40 e anos 50) para o Brasil. Muitos estão agora a voltar para o país dos seus antepassados não só à procura de melhor emprego e nível de vida mas também, suponho, para se redescobrirem. Enfim, saltei para dentro da sala para ver o filme que iam mostrar. Longe de ser uma obra-prima foi no entanto uma boa forma de experimentar uma ida ao cinema no Japão. Continuando...Ginza é um bairro muito trendy com bastante lojas de marca tipo Dior, Hermes, Porsche, ... estão ver o estilo. Para além disso tem atracções fabulosas como o show-room do edifício da Sony. Cerca de 5 andares onde estão expostos praticamente todo o tipo de produtos comercializados pela Sony e outros ainda que não se encontram à venda (protótipos ou prestes a ser lançados). Foi assim que dei uma vista de olhos pela nova Playstation 3 (muito stylish) e assisti a uma demonstração tipo home-cinema dos novos discos Blu-Ray (absolutamente genial!). Foi como estar numa loja de doces – não sabia para onde me virar (televisões, leitores mp3, laptops, uma parafernália de coisas que apetece comprar imediatamente). A próxima paragem foi no cruzamento Ginza 4-Chome Intersection. Trata-se de uma intersecção de avenidas enormes onde passam todos os dias talvez dezenas de milhares de pessoas. Parece-se um pouco com Picadilly em Londres na abundância de néons e ecrãs gigantes mas a um nível muito mais complexo e impressionante. Os nipónicos adoram estas coisas, ecrãs gigantes há-os espalhados pela cidade inteira – ecrãs de publicidade, com clips de música, notícias de última hora, ... Infelizmente desta vez não tive tempo de ir ver uma peça de teatro Kabuki, um dos estilos tradicionais de teatro japonês. De qualquer forma estou contente pois fui capaz não só de ir a Tóquio como também de andar pelo metro e linhas de comboio urbanas de Tóquio sem me enganar. E fiquem sabendo que se pensam que Londres ou Paris tem muitas linhas, aqui a história é muito mais complicada! Não só o sistema de tarifas é completamente diferente como na maior parte dos casos só se encontram mapas das linhas em japonês! E, como seria de esperar o número de estacões é também muito mais numeroso! Devido à relativa homogeneidade do povo japonês, Tóquio é muito menos cosmopolita que Londres, apresentando-se como um conjunto cultural mais coerente. Visitar Tóquio e admirar os enormes arranhas céus, a extensão imensa das avenidas, a quantidade arrasadora de pessoas na rua, os néons num permanente estímulo visual... agora percebo o que é a sensação do Lost in Translation da Sofia Coppola! Não é um sentimento de estar perdido, de receio...é encontrar-se mergulhado num mundo diferente, absolutamente estranho, quase uma dimensão paralela à nossa! Andar pelas ruas de Tóquio, passando por bairros tão diferentes como Ginza ou Akihabara, é uma aventura que pouco se compara ao que tenho visto noutras grandes cidades do hemisfério Norte (Madrid, Paris, Londres, Berlim, Boston, Toronto,...). Para isso, estou certo, muito contribui a barreira linguística. Fica a sensação de a cada rua poder-se descobrir qualquer coisa de inédita, diferente, repleta de estímulos urbanos como se percorrêssemos a par e passo um tabuleiro virtual, tal qual um jogo de Playstation. Fascinante!
Sexta-feira, 15 de Setembro de 2006
Tsukuba, Cidade-Ciência
Nestes últimos dias tenho andado a tentar ganhar uma noção de espaço e tempo nesta cidade. Para além de percorrer as ruas a pé, tenho experimentado vários supermercados, restaurantes e outras lojas de comércio. Posso dizer-vos que não é fácil comprar uma coisa tão trivial como pó para a máquina de roupa. Há uma série de produtos diferentes, todos eles com rótulos em japonês – até agora tenho escolhido um pouco ao calhas! Há poucos dias fui abrir a minha conta de banco e fazer o meu registo de residente estrangeiro. Para ambos foi necessário um chaperone – os funcionários na sua generalidade não falam inglês! E para cúmulo era também preciso escrever o meu nome em japonês (foi aliás um episódio caricato escrever o meu nome completo em katakana – os nipónicos nem acreditam quando lhes digo que tenho cinco nomes!)
O meu lugar de trabalho, como já aqui referi, é o Instituto Nacional de Ciências dos Materiais (NIMS). Para além de ser um lugar com uma boa quota de estrangeiros, tem fortes ligações a várias multinacionais japonesas (Hitachi, Mitsubishi, etc). A investigação aqui feita é do mais alto nível sendo um dos centros de referência mundiais para a ciência dos materiais (eu diria mesmo que é o melhor centro não-universitário do mundo – mas eu sou suspeito, trabalho cá!). Posso-vos garantir no entanto que o dinheiro abunda, qualquer coisa muito para além da escala das Universidades de Oxford e Cambridge, duas das mais reputadas do mundo. Aqui, quando se pensa numa experiência não é preciso andar a fazer esforços para reduzir os custos ao máximo. Pode-se sonhar!
Tsukuba é uma cidade estranha talvez consequência de ser uma mega-estrutura pensada e desenvolvida para a ciência (http://www.info-tsukuba.org/english/index.shtml). Embora isto seja positivo ao nível do trabalho, o ambiente humano fica um tanto ou quanto estranho. A Tsukuba falta-lhe ainda um centro, qualquer coisa que marque como um bairro histórico...o centro, de momento, é caracterizado por um centro comercial, pela estacão de comboios e terminal de autocarros e por um parque público / biblioteca municipal. Falta-lhe os meios culturais (muito pouca escolha para cinema, teatros, ...) o que é contraditório para uma cidade dita de elevado calibre de QI. Tsukuba parece, na verdade, uma versão sofisticada de Milton Keynes, em Inglaterra (quem conhece sabe do que falo!). Há quem goste do tipo – eu, não acho nada de especial. Mas talvez seja assim mesmo as cidades novas precisam de tempo para maturar, para construírem uma identidade própria, de perceberem a sua especificidade urbana. Felizmente Tóquio fica apenas a 45 min. Tsukuba está localizada no planalto Tsukuba Inaski o qual é o resultado da acumulação das cinzas expelidas ao longo de milénios pelos vulcões Fuji e Asama. Por esta razão, Tsukuba foi por muito tempo uma região exclusivamente dedicada à agricultura, aliás ainda hoje de forte presença. A cidade de Tsukuba é, com efeito, derivada da fusão de 5 aldeias/vilas (Tsukuba, Tai, Hojo, Tamiyama e Oda). No princípio da década de 60, Tsukuba foi escolhida pelo governo japonês para ser a nova cidade da Ciência (http://en.wikipedia.org/wiki/Tsukuba). A construção de uma série de institutos governamentais prosseguiu durante os anos 60 e 70. A população internacional era de 7200 residentes estrangeiros de 128 países diferentes em 2004. Grande parte deste número são investigadores. Não está mal para uma população total de menos de 200 000 pessoas. A ideia por detrás de Tsukuba Cidade-Ciência foi tentar levar para fora de Tóquio os institutos de investigação nacionais e assim libertar os investigadores não só do custo de vida exorbitante da capital mas também do stress e burocracias que a invadem – por outras palavras tentar fazer a vida o mais fácil possível para os cientistas. A cidade tem pois, desde a sua fundação, levado a cabo a sua concretização como centro de excelência para a ciência e educação. As organizações de investigação cobrem uma área total de quase 1500 hectares. Entre elas está, por exemplo, a sede dos laboratórios da JAXA (o equivalente nipónico da NASA). De facto, a JAXA fica mesmo em frente do meu laboratório! De vez em quando vou lá almoçar.
Domingo, 10 de Setembro de 2006
A vida entre terramotos e rituais nipónicos
Como toda gente sabe, o Japão é pródigo em tremores de terra. Eu, com apenas uma semana, já fui baptizado! Estava no laboratório e, inesperadamente, começa a minha secretária a abanar. Durante uns segundos ainda pensei que fosse o chinês no cubículo da frente (as nossas secretárias são todas pegadas – uns cubículos individuais) a tentar apagar algum rabisco nos papéis dele. Mas quando para além da secretária, os armários começaram a estremecer dei-me finalmente conta do que se estava a passar...ora pois um tremor de terra. O chinês nem disse ui nem ai – só abriu a boca quando lhe perguntei se aquilo tinha realmente sido um terramoto (a minha experiência nestas coisas resume-se a um outro tremor que senti a meio da noite num hotel em Zurique, Suiça, 2005; eram cerca de 4 am, dormia desalmado, e nem me dei bem conta do que se tinha passado!). Mas aqui, isto é o pão nosso de cada dia. Todos os edifícios estão preparados – no meu flat deram-me lanternas e rádios de emergência; as mobílias e demais armários fecham-se automaticamente. Para além disso, na televisão, anunciam sempre a eventualidade de tufões e tsunamis e outras coisas do género. Felizmente não vivo perto da costa. Hoje andei a fazer um bocado de turismo...andava à procura do centro de informação turística e, quando me dei conta, estava a participar numa demonstração da cerimónia do chá (chado). No centro, tinham uma demonstração aberta ao público, gratuita, de como todo o ritual de beber chá verde (matcha) se passa. Muito complicado, mas absolutamente fascinante (leiam o artigo na Wikipedia, http://en.wikipedia.org/wiki/Japanese_tea_ceremony). O detalhe dos movimentos, a forma como se posicionam as mãos, o chá em si (diferente de qualquer outro que já tinha provado – e já provei uns poucos!), tudo, absolutamente tudo a transpirar uma tradição cerimonial de séculos. E, ao que parece, esta espécie de pó (que se obtêm depois de macerar as folhas ressequidas da planta de chá verde) é um dos segredos da longevidade e boa saúde dos nipónicos. Enfim, fiquei agradavelmente surpreendido e foram autenticamente simpáticos...até me deram uns doces para acompanhar o chá (feitos à base de pasta de feijão preto; pequeno aparte: apreciar os doces japoneses é um gosto adquirido, aviso já...a primeira vez que experimentei tive um quase reflexo instintivo, primário, de vómito. Mas agora até gosto...mesma história se aplica para o wasabi, a mostarda japonesa de cor verde). No fim de contas, um bom e saudável contraste ao “very british, tea and scones at 5”. Para além do chá tinham também exposta uma bonita selecção de arranjos florais (Ikebana). Quando pensamos em arranjos florais na Europa, pensamos em coroas ou ramos ou qualquer coisa, tipo pequenas cestas. Aqui, novamente, há todo um ritual envolvido, pleno de significado espiritual e cheio de códigos. As flores que se escolhem, onde se colocam, maneira de as cortar ou colocar, o vaso, a água, etc...tudo tem uma maneira específica de se fazer...muitos, mas mesmo muitos códigos, e mais anos de trabalho e estudo para se fazerem as coisas como devem ser...o resultado é um espectáculo visual digno de se apreciar.
Voilá, já chega por hoje...
Sábado, 9 de Setembro de 2006
1 de Setembro de 2006 – Mi casa es su casa
Ora a minha nova casa – vejam-na em http://www.jistec.or.jp/house/ninomiya/index.htm! Tenho de dizer que o flat é, como hei-de dizer, “muito querido, acolhedor”. Tamanho japonês (34 m2) mas com pormenores de interesse – como as portas de correr em papel de arroz e as sanitas com assentos aquecidos e jactos de água a condizer. O flat tem duas divisões, a zona da cozinha/hall e a sala/quarto, separadas por uma porta de correr. A casa de banho, minúscula, parece que foi moldada em plástico e instalada de uma só penada, sanita incluída. Estou no quarto andar, com vista para cidade e para o meu laboratório, e para os campos de arroz, mesmo nas traseiras do meu prédio. Tem piada pois esta cidade ainda conserva muito de rural, com campos e hortas polvilhados no meio de prédios comerciais e residenciais. Mas talvez isto vá mudar em breve pois parece que com o novo comboio a fazer Tóquio – Tsukuba em 45 minutos muita gente vai querer vir viver para cá! Continuando...a casa faz parte de um empreendimento da fundação japonesa para as trocas de conhecimento científico e tecnológico (JISTEC). Construíram dois blocos de apartamentos com vista a proporcionarem alojamento, em Tsukuba, aos investigadores estrangeiros. E devo dizer que é uma bênção pois nem quero imaginar se tivesse de ir pelo privado...é uma complicação dos diabos não só pelas burocracias mas sobretudo pelas inúmeras regras e formalidades e códigos sócio-culturais envolvidos! A renda, mesmo assim, é um bocado carota mas vale a pena devido aos vários serviços e extras da Casa Ninomiya. Temos uns eventos porreiros - a começar pelas noites de Ikebana (arranjos florais japoneses) e passando pelas aulas de japonês gratuitas (pois é, de graça!). Temos um ginásio, biblioteca, sala de reuniões e seminários, jardins Zen à la japonaise, ...e em cada flat, o luxo de ter telefone, fax, televisão, microondas, enfim toda a parafernalia de electrodomésticos e todos de marcas japonesas...Panasonic, Sanyo, Casio, Sharp, ...Mas interessante são as regras para reciclagem. Nisto devo dizer que nunca vi coisa igual! Qual Alemanha, Áustria, países nórdicos e outros...aqui a reciclagem é real e a doer... de tal forma que não há caixotes de lixo nas ruas, apenas compartimentos que recolhem ou garrafas, ou pilhas, ou latas, ou ... tudo no seu lugar específico, tudo separado...e não há como fugir a isto. Difícil mas definitivamente positivo. Entretanto ainda não conheço os meus vizinhos mas, pelos nomes nas caixas de correio, é bastante internacional – creio que sou o único português, não há brasileiros e suspeito que apenas um ou dois espanhóis. A casa em si fica a 20 minutos a pé do centro da cidade e outros 20 do meu laboratório. Entretanto também aluguei uma bicicleta pois aqui é como em Oxbridge, são cidades pequenas mas ajuda muito quando se pode pedalar de um lado para o outro. Mas não convém esforçar muito! É que está um calor... eu já não estou habituado a temperaturas a rondar os 30, e para mais com uma humidade enorme. Isto faz com que passemos quase todo o dia a suar! De quando em quando, uma chuvada para arrefecer. Abraços e beijinhos, amanhã há mais.
31 de Agosto de 2006 – Gozaimas, do itashimashte! (Good-morning and welcolme!)
O meu voo saiu pelas 11 da manhã. Pouca gente no avião, uma viagem sem problemas mas com um serviço péssimo – nem um copo de água ofereceram! E isto é a SAS! Mais parecia que estava eu num voo da Ryanair! Enfim, não recomendo, pelo menos para intra-europeus. A chegada ao aeroporto de Copenhaga é impressionante, aliás como são sempre as chegadas em cidades com bastante água em redor. Para mais, como o tempo estava soalheiro deu para ver bem as vistas... enfim, aterrei e esperei cerca de duas horas pelo outro avião, também da SAS, que me levaria até Tóquio. Na passagem para a zona embarque, quando viram o meu passaporte, puseram-me de lado! A polícia tinha de vir verificar o meu passaporte! Estive coisa de 10 minutos à espera, quando o Sr. Agente aparece e me pergunta de onde vinha. Eu, sem perceber nada, disse-lhe “De Londres, claro!” – afinal eles não tinham percebido que eu estava apenas em trânsito! Acho que foi das poucas vezes que viram por lá um portuga a querer ir para Tóquio! Enfim, aparte esta anedota, o voo para Tóquio foi bem melhor. Neste, a SAS serviu-nos decentemente e eu até tinha espaço suficiente para esticar as pernas. Claro que foram 13 horas quase sem dormir...acho que já aqui referi que pouco consigo dormir nos aviões! Ainda consigo dormitar nos autocarros mas no aviões é uma desgraça...assim se dormi cerca de hora e meia foi muito...pois, vejamos...na noite de 30 de Agosto não dormi mais de três horas e na noite de 31, dormi cerca de uma hora...lindo! Cheguei a Narita parecia um morto-vivo. O voo aterrou cerca de 30 minutos adiantado (9 horas da manhã em Tóquio). Despedi-me da minha companheira de viagem (uma finalista de engenharia que ia começar dentro de um mes a trabalhar para a Panasonic, em Sendai) e fui preencher os papéis de imigração. Chegado ao posto de controlo, umas poucas questões, uma vista de olhos pelo meu passaporte e visto de trabalho e, Konichiwa! Bem-vindo ao Japão! E assim foi que, depois de recolher a minha bagagem, comprei o bilhete para o expresso de Tsukuba, e delícia imensa consegui dormir mais de hora e meia (ou seja, quase todo do trajecto). Pelo meio-dia de 1 de Setembro cheguei finalmente a Tsukuba! Mais ainda não tinha acabado...tinha de telefonar para o meu laboratório (oficialmente já estava no meu primeiro dia de trabalho!) e contactar a secretária. A Erika é uma japonesa de cerca de 25 anos e bastante simpática, estranhamente extrovertida para uma japonesa. Fiquei bastante impressionado, tanto mais que ela fala um inglês fluente quase sem acento! Porreiro! Ela veio buscar-me ao terminal e levou-me até ao laboratório – Hello NIMS! (http://www.nims.go.jp/eng/) No laboratório, tratamos de uns papéis e depois foi vez de me levar até à residência para receber as chaves da minha nova casa!
Sexta-feira, 8 de Setembro de 2006
30 de Setembro de 2006 - good-bye fens and dreaming spires
Com todo o lufa-lufa das mudanças e a falta de adaptadores para as tomadas japonesas, deixei de escrever por uns tempos – mas não desesperem pois estou, de novo, no activo! Adaptadores e extensões benditas, posso finalmente deitar mãos à massa (recebi hoje as minhas malas! Já explico...). Ora comecemos pelo princípio...ainda em Cambridge. Talvez não saibam mas tive uns problemas desgraçados para fazer as mudanças e conseguir empacotar tudo atempadamente. Tudo isto porque só quando tive de começar a arrumar a minha tralha é que realmente me dei conta do quanto tinha acumulado nos quase 6 anos passados em Inglaterra (Janeiro 2001 – Setembro 2006)! E tinha tudo no meu quarto do Wolfson, o que torna a situação ainda mais surrealista pois aqueles que o viram sabem que não era assim tão grande quanto isso. De uma coisa me deu conta – sou extremamente eficaz a aproveitar todos os cantos e recantos de espaço! De outra maneira nem metade do material lá caberia! Por conseguinte, dei por mim a precisar de cerca de duas semanas para primeiro arranjar cartões decentes e depois escolher detalhadamente o que iria para Portugal e o que precisaria, absolutamente, aqui no Japão. Assim foi que comecei por empacotar 6 caixotes, com cerca de 25 kg cada, com roupas, livros, CDs, etc. Este primeiro molho tinha, como destino, Portugal, mais precisamente a casa dos meus pais! Bem-hajam por concordarem com isto! Porque realmente é muito cartão e material! Escolher uma companhia de mudanças para levar as caixas foi uma aventura. Digamos que havia diferentes escolhas mas todas faziam a 3 libras / kg (multipliquem 3 x 6 x 25 e já vêem o preço que teria de pagar!). Quase conformado que iria ter de gastar uma pipa de massa, o meu pai conseguiu identificar um negócio da China. Acontece que lá para os lados de Londres há uma companhia de transitários que normalmente transporta mercadorias entre Portugal e Inglaterra e – espantem-se! – faziam 1 libra / kg! E, mais, iam levar lá a casa. O único problema é que teria eu mesmo de entregar as caixas no entreposto em Londres. Na verdade, mesmo com o aluguer da comercial, gasóleo, etc., ficou bem mais barato – mas também me deu o cabo dos trabalhos pois para dar com a ruela onde eles estão, em Londres, levou-me a manhã inteira!
Metade do trabalho feito, e aqui o meu quarto parecia outro - muito mais espaço e até a acústica mudara consideravelmente - comecei a apurar as coisas com destino ao Japão. Junto com o material que tinha no laboratório posso dizer-vos que enchi 2 malas de viagem (cada uma com cerca de 22 kg), uma mochila de campismo (15 kg), duas caixas de cartão (20 kg cada) e finalmente a mochila do laptop com alguns 7 kg! Contas feitas são 106 kg! Pois é, não é fácil esta vida de mudanças! E isto, para ser sincero, são só os livros essenciais, as minhas roupas (Verão, Inverno, lençóis, etc.) e umas quinquilharias diversas (cabos de computador, ...). Claro que são coisas que poderia comprar aqui no Japão mas acho que sair-me-ia caro e perderia um tempo incrível, e depois, seria uma pena uma vez que nem sabia se encontraria coisas ao meu gosto (pelo menos em Tsukuba)...enfim houve uma série de factores que me levaram a trazer “as minhas coisas”. E ainda bem que o fiz, digo-vos agora! A roupa aqui pelo que tenho visto não é nada de especial e os livros vão-me dar bastante jeito. Bom, todo este material ainda pensei mandá-lo através das companhias de mudanças, no mínimo as duas caixas de cartão. E não é que para me levarem 40 kg para o Japão “porta-a-porta” os sacanas me pediam 800 libras! Isto é o roubo do século! Um rip-off completo. Lá andava eu a stressar outra vez quando a Mariana me disse que talvez fosse possível mandar as caixas por UPS usando a conta da empresa dela. A desvantagem seria que poderia demorar algumas semanas até ter o material comigo. Como os preços que a empresa aufere é cerca de um terço do que como individuo teria de pagar, e visto que o conteúdo das caixas são mais livros e papeis vários os quais só precisaria mais tarde, concordei. Entretanto, os outros cerca 75 kg, decidi que não iria mandar pela companhia de mudanças e que levaria comigo as malas e mochilas no avião. A SAS (Scandinavian Airlines) estupidamente só me deram 20 kg de bagagem! Isto é completamente absurdo tanto mais que quem vá para os US tem pelo menos direito a 2 x 32 kg! Eu, que ia para o outro lado do mundo, e tinha de parar em Copenhaga, só tinha direito a 20 kg! Claro que refilei no balcão da SAS e lá me deram cerca de 10 kg extra (pouco!). Pensava eu que, tudo bem só tenho de levar o resto como excesso, e não deve haver grandes problemas com isso. Mas – para começar - porque as medidas anti-terrorismo ainda estavam em vigor em Heathrow só podia levar no avião um pequeno saco...como tal, a mochila do laptop foi no porão (computador foi comigo, pelo menos isso ainda deixaram, não foi tão mau como quando fui para Itália!). Seguidamente fui confirmar o excesso de bagagem. Quando eles me disseram o preço para os meus cerca de 45 kg extra, até caí de cu no chão! Meu Deus, eles pediram-me 1600 libras...sim, sem brincadeira, 1600 LIBRAS PARA 45 KG!!!! Bonito...ali estava eu no aeroporto, sem ter praticamente dormido (2 horas apenas pois tinha saído do Wolfson às 4h00 e a noite tinha sido de despedidas, e como sempre acontece acaba-se por ficar mais tempo do que se devia, bla, bla, bla...estão a perceber a situação!)...ora, sem dormir e sem dinheiro para levar a minha bagagem! Informaram-me então que ali no aeroporto havia uma companhia que se encarregaria de levar as malas num avião de carga até ao aeroporto Narita, em Tóquio. Claro que nem sequer discuti...seria sempre mais barato que a porra das 1600 libras (e aqui nem valeu de nada ter refilado e esperneado...1600 libras e mais nada, era assim e assim era!). Bom, enfim lá fui ter com o pessoal da ExcessBaggage.com, os quais foram bastante prestáveis e eficazes (o que no caos que é o aeroporto de Heathrow é de louvar!). Fizeram-me um preço de pouco mais de 330 libras. Com a bagagem finalmente resolvida fui para a zona de embarque onde o avião da SAS me esperava para levar até à Dinamarca. E assim foi...um martírio...valeu-me o facto de ter chegado a Heathrow cerca de 4h00 antes da hora de partida do avião – chamem-lhe sexto sentido, lei de Murphy, o que quiserem, algo me dizia que qualquer coisa iria correr mal!